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Horizonte da Cena

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Novos rumos para o Espanca!

Por Soraya Belusi*

Gustavo Bones e Marcelo Castro refletem sobre os próximos passos artísticos do grupo, revelam novos projetos e contam sobre o dilema de garantir a  continuidade do coletivo sem a captação de um novo patrocínio

A produtora Aline Vila Real e os atores Marcelo Castro e Gustavo Bones dão continuidade às ações do grupo (Fotos Espanca/Divulgação) 

HORIZONTE DA CENA: Recentemente, a Grace confirmou a saída dela do grupo, embora ela vá continuar a integrar os espetáculos que vocês mantêm em repertório. Em algum momento, vocês cogitaram colocar um ponto final no Espanca! ou isso nunca foi considerado? O que pesou para que vocês se mantivessem enquanto grupo?

Marcelo Castro: Manter o grupo era algo meio claro para a gente. Porque a história do grupo é maior do que a Grace e é maior do que qualquer um de nós. O grupo é algo que existe no mundo e as pessoas se relacionam com essa outra pessoa autônoma, chamada Espanca. Uma coisa que a gente percebeu desde sempre é que foi a força da junção de pessoas que criou isso. Como quando saiu o Paulo (Azevedo), quando saiu a Samira (Ávila)… Claro que é diferente a saída da Grace, por vários pontos, e claro que isso foi uma questão para gente. Mas não se tratou de uma decisão de continuar ou não, parecia óbvio que continuasse, além do fato de que a saída da Grace não muda o fato de que fazemos todas as peças que a gente sempre fez. Para as pessoas, é como se não mudasse nada. O público vai continuar vendo a Grace em cena e o grupo. A saída dela para nós é quase uma questão privada. Ela não está aqui no escritório hoje, não vai estar mais, mas continuará presente no palco.
Gustavo Bones: A gente tem uma obrigação moral de reconhecer a importância da Grace. Mas o grupo sempre foi um sistema de trabalho compartilhado e coletivo, mesmo as criações, mesmo os textos. Do lado de fora, de alguma maneira há uma percepção de que a Grace meio que coordenava o Espanca, mas para nós isso não era uma questão.  
Marcelo Castro: E as pessoas pensarem isso nunca nem foi um problema para a gente, porque simplesmente não era assim e não tínhamos razão de desmentir. Nunca foi um projeto nosso só montar textos da Grace, por exemplo, mas as coisas foram se construindo assim, muitas vezes até ocasionalmente. O “Amores Surdos”, por exemplo, poderia ter sido outra coisa, dirigido pelo Marcio Abreu, a quem convidamos na época, ter um texto francês, etc. Nunca foi um projeto do grupo só montar texto da Grace, mas acontece que ela é um gênio.  
Gustavo Bones: Quando ela nos disse que iria sair, lógico que pensamos em abandonar o grupo. Isso aconteceu quando o Paulo saiu, quando a Samira saiu, e ainda mais quando o Grace disse que ia sair. Todos nós já pensamos em sair em algum momento. Mas, automaticamente, o grupo nos revelou que ele continuaria, com muita discussão, batida de cabeça, reflexões, depressões; foi mostrando que ele existiria sem a força da Grace e apesar dela. E, agora, a gente tem um pouco a missão de transformar esse tempo de trabalho com ela numa etapa da nossa pesquisa, e não na nossa pesquisa. O “Líquido Tátil” foi meio uma transição entre uma coisa e outra, mas, agora, nossa questão é como assimilar o que aprendemos de dramaturgia como parte de uma pesquisa que segue adiante.

Como vocês disseram, a ‘genialidade’ da Grace é algo que, muitas vezes, nos fazia pensar que as questões artísticas e estéticas do Espanca passavam principalmente por ela, talvez, inclusive, pelo peso que a assinatura da escritura dramatúrgica que ela construiu. Agora, de alguma maneira, devem surgir novos desejos e caminhos, uma certa mudança?

Gustavo Bones: Antes de você chegar, estávamos aqui com uma lista imensa de vontades (risos). Com certeza surgem questões artísticas que queremos trabalhar.
Marcelo Castro: Tem um projeto que a gente já tem vontade há muito tempo, que integrou nossa pesquisa nesses dois anos de patrocínio da Petrobras, de criar um espetáculo de dança, inclusive fizemos aulas regularmente…
De alguma maneira a dança sempre rondou o trabalho de vocês…
Gustavo Bones: Criamos “Por Elise” no estúdio da Dudude (Herrmann); no “Amores Surdos” nós sapateamos; no “Congresso Internacional do Medo” tinha o Serginho (Sérgio Pena), a Marise (Dinis) e a Izabel Stewart; depois veio “Marcha para Zenturo”, que tinha um estudo mais do View Points; e várias outras experiências de aula e oficinas. Estamos tentando executar esse projeto há um bom tempo. A gente quer fazer um estudo com cinco coreógrafos brasileiros e que isso gere um espetáculo nosso.
Marcelo Castro: Isso já gera uma outra rota, uma peça que parte de outro lugar, não mais da palavra, mas do corpo.  
Gustavo Bones: Mas que seria uma investigação de uma dramaturgia do movimento, mesmo que não seja na ideia tradicional. Mesmo que todas as nossas peças tenham esse elemento do movimento, foi sempre em função da narrativa, da história, da palavra e, agora, essa pesquisa nos abriria outras possibilidades nessa relação com o movimento. E temos outras ideias pela frente. Entre eles, um desejo há muito tempo de fazer algo com a Cia. Brasileira. A gente convidou o Marcio (Abreu) para dirigir a segunda peça do grupo, ele não pode, e então fizemos o “Amores Surdos”.
Marcelo Castro: Desde então, a gente sempre os rondou. Rolou o Rumos Itaú Cultural, em 2011, fizemos um processo juntos(o Troca de Pacotes). Estamos tentando captar patrocínio e parte do dinheiro é para a ideia de uma montagem com eles, os dois grupos juntos, e a peça deve partir de elementos que compõem a linguagem.
Gustavo Bones: Nosso ponto de partida seria estudar um pouco a estrutura formal da língua e da comunicação.
Marcelo Castro: Quando pensamos em novos caminhos estéticos, estamos também nesse momento de ver as coisas fundamentais também. Só nesses dois projetos que citamos, é interessante ver como tem a questão da parceria que se mantém, mesmo o da dança, que prevê o encontro com cinco grandes coreógrafos, como a Cristina Moura, a Lia Rodrigues, mantém a ideia de criar em parceria com outros artistas, assim como o projeto com a Brasileira. Agora, nós sempre falamos que calhamos de ser um grupo de teatro e que tínhamos desejos de fazer coisas diversas. Antes de você chegar, o Gustavo brincou da nossa lista, mas a gente estava falando da nossa vontade de fazer uma peça de rua. (risos) O nosso nível de abstração chega a esse ponto. (risos). O que eu sinto é que a gente tem algo, o Espanca, que vai existir se a gente fizer um espetáculo de rua, com  a Brasileira ou de dança, e as pessoas vão lá. A gente fez os núcleos de criação aqui no espaço, cada um fazendo um projeto seu, e aí eu vou ver o trabalho do Gu e vejo o Espanca lá, e isso é recíproco. Assim como vejo uma cena curta da cidade e vejo influência do Espanca no trabalho das pessoas. Ele existe.
Gustavo Bones: O que é legal é que, se antes a gente já tinha uma participação artística efetiva na colaboração artística, agora a gente se arreganhou para a criação. Perdemos uma companheira de anos, importante, e a gente resolveu se lançar. E a gente já começou, não é só ideia. O Marcelo, por exemplo, fez uma performance duas semanas atrás numa residência na Funarte e, nesta sexta (dia 24 de maio), vai acontecer um desdobramento aqui no Espanca!
Marcelo Castro: Nesta sexta vai acontecer o “Ruído 01”, que tem a ver com a residência, na qual fiz três experimentos em cima da ideia e da concretude do palco vazio, em que recebia um público de cada vez, e percebi esse meu desejo de trabalhar o espaço vazio. O “Ruído 01” é um primeiro desdobramento desse desejo.
Gustavo Bones: Além de tudo, temos a oportunidade de experimentar coisas aqui dentro e criar formas de mostrar isso aqui (no Teatro Espanca!, sede do grupo). E essa chance de se jogar na criação acontece pela possibilidade de a gente ter um espaço para fazer isso.


Vocês dois, como já disseram antes, têm desejo de mergulhar em várias propostas estéticas, e, inclusive, já vinham experimentando isso em coletivos como o Paisagens Poéticas. Além disso, durante a trajetória do Espanca até aqui, foram vários os parceiros e colaboradores, sejam atores convidados para certos trabalhos, seja substituindo. A lista inclui o Assis Benevenuto, a Gláucia Vandeveld, a Renata Cabral, a Izabel Stewart, Alexandre de Sena, dentre várias outras artistas da cidade. Vocês pensam em uma nova configuração para o grupo? Essas pessoas estariam incluídas? Ou o Espanca se mantém com vocês dois por enquanto?

Gustavo Bones: A gente acha que isso precisa ser mais natural, entende? Seria estranho dizer que queremos chamar tal e tal pessoa. Que o grupo agora, com a saída da Grace, precisa de um ator/atriz deste ou daquele jeito. Não é assim. Tem que ser como aconteceu com a Aline (Vila Real, produtora do grupo), que a gente já estava procurando uma pessoa, ela chegou até nos ainda não como funcionária, e foi acontecendo, até estabelecer a relação que temos hoje. Temos vários projetos incluindo os meninos que trabalharam com a gente, Serginho, Assis, Gláucia, e estamos abertos para afetar e sermos afetados por eles. Se chegar a algum lugar nesses encontros, aí vai acontecer. Estamos hoje eu, Marcelo e Aline, além de Denise e Mariana, que são artistas-produtoras que trabalham aqui com a gente. E tem uma coisa de que esse grupo não somos nós, nós somos um pouco os condutores desse bonde. E cada vez mais o Espanca se amplia se nós formos pensar…
Marcelo Castro: Éramos cinco pessoas, que fizeram uma cena curta e uma peça, depois as pessoas foram se agregando, no “Congresso…”, por exemplo, o Espanca já eram oito, nove em cena. E, mais que isso, a questão de abrirmos este espaço (o Teatro Espanca) mudou muito nossa ligação até com a cidade. A gente começa a existir na paisagem da cidade. Tem gente que sabe o que o é o espaço e nunca viu uma peça do grupo, e tem aqueles que veem todas as peças do grupo e se surpreendem ao saber que temos esse espaço.
Mas vocês vivem, neste momento, além de todos os dilemas artísticos e estéticos, um dilema financeiro com a dificuldade de captar patrocínio para dar continuidade às atividades do grupo e, consequentemente, do espaço.
Gustavo Bones: Ao longo da história do Espanca, a gente já passou por isso diversas vezes. A gente – digo, artistas – vive nessa onda perversa de um dia tem, no outro não tem. O grupo, quando começou, não tinha nada, depois alguma estrutura, conseguia se manter, e então conseguimos o patrocínio da Petrobras que permitiu abrir o espaço, criar um escritório, contratar pessoas para trabalhar conosco, criar uma equipe de fato, com designer gráfico, fotógrafo, assessor de imprensa, etc. Então, isso foi incrível, maravilhoso, mas, ao mesmo tempo, tem uma coisa meio cruel porque corta de uma vez. Ele termina. E aí a gente tem essa estrutura montada sem perspectiva de continuidade. No último ano, a gente conseguiu juntar outros projetos que o grupo aprovou, como Caixa, CCBB, Lei Estadual, e arrastar esse período por seis meses, de janeiro a junho deste ano. Mas junho já é mês que vem.
HDC: Corre o risco de o espaço ser fechado em junho, é isso? Quais são de fato as perspectivas?
Gustavo Bones: Somos crias do Galpão, não somos enlouquecidos, aprendemos um pouquinho de planejamento e gestão (risos). Não tem perspectiva de fechar este ano, mas, se não aprovarmos e não captarmos, não temos como manter o espaço. Temos um projeto aprovado na Lei Estadual, que prevê ações de continuidade e manutenção, como o ACTO 3, de novo com Brasileira, com o XIX, e, nesta edição, o  Magiluth, de Recife, que prevê oficinas, apresentações de cada grupo na cidade,  além de encontros entre os criadores. Além disso, o projeto aprovado na Lei Estadual prevê criar um espetáculo com a Brasileira e a manutenção do espaço. Estamos ainda esperando o resultado da Lei Municipal, mas o dinheiro destinado pela lei é muito pouco para manter o ano todo, estaria longe de atender à continuidade do grupo.
Enquanto isso, a agenda do grupo continua bem disputada. Vocês mantêm os espetáculos em repertório e, inclusive, já foram convidados a estrear um trabalho inédito dentro do Festival de Cenas Curtas…
Gustavo Bones: No espaço, temos uma programação até o fim de junho com sarau; tem a estreia do espetáculo do Daniel Toledo, “Fábrica de Nuvens”, em que o Marcelo faz assistência de direção; tem ainda uma mostra do Ana – Amostra Nua de Autoras, que são dois shows por dia de duas compositoras-intérpretes de BH; e o projeto “Abismo- palavra” fecha a programação, com duas residências, uma de desenho e uma de literatura. Até setembro, segue o Janela de Dramaturgia, uma vez por mês. O Espanca tem agenda até outubro. Vamos fazer o “Marcha para Zenturo” em Brasília, levar “O Líquido Tátil” para o Festival de Inverno de Ouro Preto e depois ainda tem Recife e Caruaru; temos uma pequena turnê de “Amores Surdos” pela América Latina (Colômbia e Equador); e o Rumos Itaú Cultural, em setembro; mês em que também acontece a estreia no Festival de Cenas Curtas. Trabalho não falta.  

(*) Soraya Belusi é jornalista, crítica de teatro e mestranda em Artes pela UFMG.


23/05/2013 TAGS: Belo Horizonte, Grupo Espanca! 0 COMMENT
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