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Horizonte da Cena

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Sobre ringues e diálogos ou a cena como campo de batalha | MITsp 2019

Crítica do espetáculo O Alicerce das Vertigens, de Dieudoneé Niangouna (Congo/França)
– por Soraya Martins –

MITsp 2019

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A peça O Alicerce das Vertigens coloca em cena o drama do teatro africano, traz o que o ator de África quer colocar dele no mundo. E o que ele tem a dizer a partir do seu lugar de enunciação, como diz Conceição Evaristo, não é uma história para ninar os da Casa Grande-Colonizadores. Aqui se fala sobre e a partir de um pensamento crítico e reflexivo, sobre modos outros de interpretar os processos históricos e de forjar outras condições de existência para os corpos da negrura. Enganam-se as pessoas (brancas) que pensam que aqueles que não falam (negros) não tem nada a dizer. Eles – os negros africanos, negros em diáspora – foram sempre silenciados. As máscaras de flandres existem! Existem corpos autorizados para o abate. A necropolítica fazendo a política do extermínio.

“Pode o subalterno falar?”, pergunta Spivak. Como criar espaços nos quais os subalternizados (não é uma condição inerente, como a palavra subalterno indica) possam se articular e, como consequência, possam ser ouvidos? A palavra-linguagem é um mecanismo de poder que pode tanto ser utilizada para manter o poder quanto para compartilhá-lo. Quando se fala de direito à existência, à voz (e ao direito a ser escutado), se fala de lugares sociais, de como certos lugares são invisibilizados, de como as diferenças são vistas na sua negatividade e significam desigualdade, de como só um grupo específico está autorizado a falar.

O diretor Dieudonné Niangouna tece um espetáculo textocêntrico, que, para além do ato de emitir palavras, se dá para que identidades historicamente silenciadas e desautorizadas possam existir. A palavra na sofisticação das metáforas e metonímias, na ironia cortante que faz com que o espectador sinta o cheiro fétido do empreendimento colonial. O delírio. O fantasma. A vertigem.

O Alicerce das Vertigens encena os fragmentos-vertigens de vida de dois irmãos, Fido e Roger, que veem o seu cotidiano na cidade de Brazzaville, capital da República do Congo, sua dimensão familiar-íntima, serem confundidas com a própria história da colonização do país. Dessa mistura, fragmentos-vertigens que vão do pessoal ao coletivo e volta de novo no pessoal, surgem histórias que os textos da História, as narrativas dos vencedores sistematicamente camuflam. Dessa prática emerge um significante novo que vai paulatinamente inscrevendo a peça/a performance em novos saberes sociais, culturais e históricos.

Cenário fragmentado. Fragmentos de imagens. Fragmentos de memórias mobilizados para dar conta das experiências negras fragmentadas em si mesma. A possibilidade de existir a partir do fragmento (que não é um processo de “desencanto” ou de desagregação social, de um mundo fragmentado e polarizado entre capitalistas e comunistas, da efervescência das vertentes pós-estruturalistas e desconstrutivistas, como acontece com o teatro contemporâneo branco-hegemônico), condição – sem possibilidades de escolhas, para os sujeitos negros moventes pelo mundo, devido à imigração forçada pelo capitalismo – para plantar a realidade de maneira outra, fazer cem milhões de revoluções, mostrar outras possibilidades de estar e ser negro em cena, de ser negro pensante no mundo, de revisitar o passado, não como uma simples enunciação oca, mas como uma tentativa, sempre retomada, de uma fidelidade àquilo que nele (passado) pedia outro devir. A possibilidade mesma de tecer um devir negro no mundo, apresentada no fim do espetáculo: tem-se uma tela branca vazia oferecida ao espectador pronta para ser colorida com histórias, memórias cosmologias, tecnologias e corpos negros. Pronta, como diz Jota Mombaça, para redistribuir as violências.

O teatro de Niangouna se apresenta como lugar privilegiado de produção de pensamento crítico sobre a história de África, do Brasil e do mundo, local de produção de história pública no sentido mais sofisticado e abrangente do termo.

*Texto originalmente publicado pela Prática da Crítica no site da MITsp.

18/03/2019 TAGS: Congo, dramaturgia, França, MITsp, MITsp 2019, Teatro negro 0 COMMENT
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    Soraya Martins

    Atriz, crítica teatral e curadora independente. Curadora do Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia- FIAC-2019/2021/2022 e do Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte- FIT-BH-2018. Doutora em Literatura de Língua Portuguesa e mestre em Estudos Literários. Atriz formada pelo Teatro Universitário da UFMG. Cursou Semiologia do Teatro no Dipartimento di Musica e Spettacolo dell´Università di Bologna, Itália. Desde 2005, atua como atriz e pesquisadora de teatralidades brasileiras. Escreve críticas teatrais tanto para o projeto segundaPRETA quanto para o site Horizonte da Cena e para festivais, como: Festival de Curitiba, Mostra Internacional de Teatro- MITsp, Festival Estudantil de Teatro- BH, Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. Tem em seu currículo trabalhos realizados junto a diversos grupos de teatro, entre eles, o Grupo Espanca!
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O Horizonte da Cena é um site de crítica de teatro criado em setembro de 2012 pelas críticas Luciana Romagnolli e Soraya Belusi, em Belo Horizonte. Atualmente, são editores Clóvis Domingos, Guilherme Diniz e Julia Guimarães. Também atuam como críticos Ana Luísa Santos, Diogo Horta, Felipe Cordeiro, Marcos Alexandre, Soraya Martins e Victor Guimarães. Julia Guimarães e Diogo Horta criaram, em 2020, o podcast do site. Saiba mais

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