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Horizonte da Cena

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Maturidade de uma parceria – 10 anos de Eid e Armatrux

Crítica a partir do espetáculo ”Nightvodka”, de Eid Ribeiro e grupo Armatrux (BH)

– Por Soraya Belusi –

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20171116BM0713Fotos de Bruno Magalhães – Nitro

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Maturação é fruto do tempo. É preciso deixá-lo agir, sobre coisas e pessoas, para que haja uma transformação. A pressa, algo tão proeminente na nossa experiência de contemporaneidade, aqui é inimiga de uma possível transformação. Isso torna-se evidente ao acompanharmos os resultados de uma parceria entre o grupo de teatro Armatrux  e o diretor Eid Ribeiro, uma tabelinha que se iniciou há exatos dez anos.

‘‘Nightvodka’’, a mais recente montagem do coletivo mineiro, que fez sua primeira temporada no CCBB, é uma celebração a essa relação teatral que completa uma década. E pode ser vista como uma condensação dos estudos e experimentações de linguagem que diretor e atores vêm construindo ao longo dos anos. Elementos que já podem ser notados desde o infantil ‘‘De Banda pra Lua’’ e que, no último trabalho, estão elevados em sua máxima potência.

Eid recorreu ao livro ‘‘Vozes de Tchernóbil’’, de Svetlana Alexievich, sobre o massacre nuclear no território soviético, para construir em cena uma paisagem devastada, povoada por pouca luz e muitas sombras, num retrato da humanidade esquecida em suas próprias ruínas, condenada a seguir seus dias sem a possibilidade de esperança redentora – algo recorrente em suas encenações. O espectador é colocado como observador passivo dessa devastação ambiental e humana, assistindo ao abandono alheio – como fizeram as autoridades russas diante de uma das maiores tragédias do nosso tempo.

O texto de Svetlana Alexievich está em cena, mas não a define. Ele é ponto de partida, síntese de um sentimento que parece perseguir – ou persistir – nos trabalhos de Eid. É como se o diretor mineiro convidasse a apatia dos personagens de Tchékhov para se integrar ao universo absurdo de Beckett, em que a repetição se evidencia como único comportamento possível. Não à toa, os personagens em cena se prestam, em grande parte do espetáculo, a repetir, até chegar ao ponto do incontrolável, ações cotidianas – carregar os livros, preparar a mesa, construir um caixão.

A dramaturgia do espetáculo abre mão do formato documental que possui a obra literária  para lançar o conteúdo de suas reflexões em âmbito mais universal, possibilitando uma maior empatia com o espectador, que se desprende do fato histórico em si – a tragédia nuclear – para focar-se no abandono humano, algo que conhecemos nas profundezas de nossa existência. Os depoimentos presentes no livro ganham um tratamento em off, procedimento que despersonaliza o que é dito, como se as vozes que brotam na cena pudessem ser de qualquer um, não apenas dos personagens que as narram.

Nesse sentido, é como se estivéssemos de fato lendo um livro cheio de lacunas a serem preenchidas pela nossa experiência de vida, nosso repertório e imaginação. A incomunicabilidade, marca da dramaturgia do teatro do absurdo, se repete aqui, como se os personagens fossem incapazes de dizer algo uns aos outros e também a nós, que os observamos a distancia.

É como se enxergássemos espectros, a faceta fantasmagórica do humano, personagens que morreram em vida – a solidão é uma espécie de morte.  Este é um jogo que percorre a obra e consiste no trânsito entre a repulsa e o desejo pelo outro – tão lindamente sintetizada na dança/luta coreografada por Mario Nascimento e pelos atores Eduardo Machado e Tina Dias.

Eid, exímio diretor de atores, coloca o quarteto em cena do Armatrux em situação de desconforto. Ambos, diretor e grupo, se jogam no risco. É na contenção, no silêncio e na concentração máxima que se sustenta a atuação. Saem as gagues e o humor de obras como ‘‘No Pirex’’ e ‘‘Thácht’’ e evidencia-se a tendência para o trágico. Passado, presente e futuro se alinham em cena, numa espécie de virada em que os personagens parecem acordar e nos tirar da nossa própria apatia. O humano insiste em resistir. Mas também insiste em destruir. ‘‘Nightvodka’’ é um grito de alerta – ‘‘é melhor morrer de vodca do que morrer de tédio’’.

 

FICHA TÉCNICA

Direção e Dramaturgia: Eid Ribeiro

Colaboração Dramatúrgica: Grupo Armatrux / Livremente inspirado em “Vozes de Tchernóbil” de  Svetlana Aleksiévitch

Assistência de Direção: João Santos

Elenco: Cristiano Araújo, Eduardo Machado, Raquel Pedras e Tina Dias

Cenário e Figurino: Marco Paulo Rolla

Luz: Wladimir Medeiros

Preparação Vocal: Marina Machado

Direção Musical: Marcos Frederico

Coreografias: Mário Nascimento e Eid Ribeiro

Trilha Sonora: Eid Ribeiro

Professor de Baixo, Guitarra e Piano: Henrique Cabral

Produção Executiva: Luiz Fernando Vitral

Maquiagem: Linda Paulino

Fotos: Bruno Magalhães – Nitro

Comunicação: Uhuru

Assessoria de Imprensa: Luz Comunicação – Jozane Faleiro

Gestão de Projetos E Assessoria Jurídica: Drummond e Neumayr – Artmanagers

Contabilidade: Lucrar Contabilidade

Auxiliar Administrativa: Cynthia Souza

Coordenação de Produção: Tina Dias

Coordenação de Planejamento Artístico: Raquel Pedras

Coordenação Técnica: Cristiano Araújo

Coordenação de Planejamento e Mobilização de Recursos: Paula Manata

Coordenação Administrativo – Financeira: Rogério Araújo

Grupo Armatrux: Raquel Pedras, Tina Dias, Paula Manata, Cristiano Araújo, Eduardo Machado, Rogério Araújo

Realização: Grupo Armatrux

13/12/2017 TAGS: #armatrux, #ccbb, #SvetlanaAlexievich, #tchernóbil, #teatrodoabsurdo 1 COMMENT
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    Soraya Belusi

    Jornalista, crítica e pesquisadora teatral. Mestre em Artes na UFMG. Fundadora e editora do Horizonte da Cena.

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O Horizonte da Cena é um site de crítica de teatro criado em setembro de 2012 pelas críticas Luciana Romagnolli e Soraya Belusi, em Belo Horizonte. Atualmente, são editores Clóvis Domingos, Guilherme Diniz e Julia Guimarães. Também atuam como críticos Ana Luísa Santos, Diogo Horta, Felipe Cordeiro, Marcos Alexandre, Soraya Martins e Victor Guimarães. Julia Guimarães e Diogo Horta criaram, em 2020, o podcast do site. Saiba mais

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